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Maria Helena vivia em um mundo estanque, em um mundo à parte. 
Em seu mundo tudo era lindo, as cores bem vivas, tudo colorido e todo mundo era feliz. Em seu mundo era tudo bem simples, as pessoas não tinham medo umas das outras, porque as pessoas não tinham medo de si mesmas. Todo mundo se sentia à vontade para conversar sobre tudo, em seu mundo não existia tabu. Todas as pessoas eram livres para se desenvolverem como bem entendessem, para explorar a elasticidade da vida, dos conceitos, das sensações e emoções. Para viverem em conjunto, aceitavam a falta de liberdade de ação, mas não abriam mão da liberdade de pensamento. E como pensavam, tanto tanto... E como sentiam, tudo, tudo. Podiam fechar os olhos e voar como pássaros, a vida não tinha limites. Em seu mundo ninguém entendia o significado da palavra impossível. Todo mundo era livre e todo mundo se respeitava. Compreendiam que cada um é um mundo inteiro dentro de si, que cada um é único, e compreendiam o quanto isso é valioso. Entendiam que perfeição e imperfeição são sinônimos e que não faz sentido julgar uns aos outros, aceitavam sua posição de ignorantes, podiam saber de si, mas não das outras pessoas. Não entendiam o 'certo e errado'. Não pensavam que poderiam mudar os outros, mas sabiam do grande poder que possuíam para mudar a si mesmos. Seu mundo era povoado por Übermenschen. A única certeza que compartilhavam é a de que o amor nada mais é do que a vibração das nossas moléculas, aquilo que nos faz ser vivos. E se amavam. Não porque tinham uns dos outros o que esperavam, não porque pensavam parecido ou agiam parecido, não se amavam querendo se apoderar uns dos outros, nem esperando serem amados em troca. Não se amavam pensando que amar e ser amado poderia resolver qualquer um de seus problemas - e sabiam por experiência que seus problemas eram somente seus e de ninguém mais, não se apoiavam uns nos outros, erguiam o mundo todos juntos. Se amavam somente porque amavam. Porque amar era como respirar, o próprio amar de dentro para fora e de dentro para dentro trazia em si o poder de dar vida. Amavam a si mesmos. 
Um dia Maria Helena foi curada e veio viver no nosso mundo. Chorou por três dias e a saudade a fez voltar de onde a tinham tirado. Foi internada em um hospital psiquiátrico com um diagnóstico de esquizofrenia. 

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