Diário de viagem - Auckland no Rio de Janeiro

Niterói, 30 de Novembro de 2019.

12:47 horas

Os desenvolvimentos da minha decisão de voltar ao Brasil:

Como poderia ser de se esperar, a minha decisão brusca de voltar ao Brasil causou um choque e mudou a dinâmica da relação entre nós dois. Talvez pela primeira vez desde que cheguei em Auckland tivemos um dia inteiro em que focamos um no outro, olhamos para um futuro iminente em que não estaríamos mais juntos e resolvemos nos amar aquela última vez da maneira como deveria ter sido todos os dias da nossa vida. Ainda assim os dois estavam machucados, os dois tinham medo, ninguém decidiu que eu deveria mudar de ideia e ficar.

Fui embora em um domingo. No dia em que acontecia, na principal rua do centro de Auckland, um desfile de Natal com carros alegóricos, bonecos gigantes e pessoas fantasiadas. Saímos para ver o desfile, o meu vôo era só de noite, tínhamos tempo. Vivemos ali um momento estranho em que nos tratávamos como namorados em um domingo normal caminhando pelas ruas de mãos dadas pelo meio da multidão que se acumulava para ver a festa que acontecia. O nosso último domingo. Conversamos sobre tudo aquilo pelo que estávamos passando de uma maneira muito amigável e um tanto cautelosa. Em um determinado momento eu disse a ele que em um daqueles dias eu tinha pensado que éramos como o Ross e a Rachel. Eu estava pensando na primeira grande briga que tiveram, quando decidiram dar um tempo e o Ross acabou passando a noite com uma outra menina e no fim a Rachel precisou terminar. E eles continuaram amigos e acabaram juntos no final. Ele me levou na parada onde poderia pegar o ônibus para o aeroporto. Ele andando na minha frente empurrando a minha mala entre aquele mundaréu de gente apinhada nas calçadas e eu vindo atrás admirando aquele homem que eu havia decidido deixar. Concordamos que seria mais fácil se estivéssemos brigados quando eu fui embora, mais fácil se nos odiássemos. Seria. Mas quando eu escolho fazer a coisa mais fácil? Juramos que nos amávamos, ele pediu para que não parássemos de nos falar. A despedida foi muito difícil, estávamos os dois em pedaços.

O ônibus que me levou até o aeroporto passou pelas ruas em que andamos juntos indo comer coisas diferentes, ou indo para o Mundolingo. Me bateu uma tristeza tremenda olhar para aquelas ruas pela janela. Eu passei mais ou menos um mês naquela cidade, mas já sentia como se tivesse passado um ano. Ao mesmo tempo eu me sentia triste pelas coisas não feitas e que poderiam ter sido caso eu não estivesse indo embora.

A gente continuou se falando por todo o caminho e depois que não estávamos mais juntos começaram a surgir as dúvidas. Começamos a questionar se eu estava fazendo a coisa certa. Continuei fazendo de maneira automática o que se deve fazer em um aeroporto. Despachei as malas, fui para a área de embarque, passei pelo raio-X, passei pelo controle de passaporte, me dirigi ao portão de embarque. Sempre no telefone com ele. Quando eu já estava na frente do portão de embarque ele resolveu me pedir para ficar. Disse que não se importava se as pessoas achassem que somos irresponsáveis. Me pediu para voltar. Disse "vamos ser o Ross e a Rachel!". O Ross foi até o aeroporto atrás da Rachel, não conseguiu chegar a tempo, telefonou dizendo que a amava e ela saiu do avião. Eu estava desesperada, não sabia o que fazer. Brincar de comédia romântica e ficar Eu percebi que não fazia ideia do que acontecia se alguém que já está na cara do portão de embarque desiste de viajar. Fui conversar com a moça da companhia aérea.

Pedi licença e perguntei "o que acontece se alguém desiste de viajar?". A moça da companhia aérea arregalou os olhos em uma expressão de desespero e disse "Mas qual é o motivo?!". Eu só respondi que era complicado. Ela disse "mas tem que ter um motivo!" e eu respondi que só queria saber o que acontecia. Não menos desesperada ela me explicou que caso eu desistisse de viajar eles teriam que procurar as minhas malas dentro do avião e isso poderia levar horas porque eles não sabem a localização exata. Agradeci e me afastei. Aquela informação influenciou muito a minha decisão de não trazer um mal na vida de todas aquelas pessoas mudando de ideia e não pegando aquele avião. Além disso, a pressão de todo o dinheiro que já tinha sido gasto para a mudança das passagens, o medo de que a situação não fosse melhorar caso eu ficasse e uma crença de que eu poderia voltar se fosse o caso me fizeram resolver ir naquele vôo. Me aproximei da mesma moça com quem tinha falado antes e ela me perguntou "posso fazer o seu embarque?", respondi "sim, antes que eu mude de ideia." e ela repetiu claramente aliviada "antes que você mude de ideia!".

Continua.

Comentários

  1. Um passinho pra trás ... é muito útil pro próximo pulo.❤️

    ResponderExcluir
  2. Tudo na nossa vida possui um motivo, pode ter certeza que é para o nosso bem. Agora, nesse exato momento, onde tudo está confuso, pode parecer que não, mas tenho certeza que logo tu colherá os bons frutos dessa tua escolha tão difícil e dolorosa.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas