Reflexões matinais

O que sei, afinal, sobre mim? Talvez só conheça o eu do presente, que está aqui agora vivendo comigo. E talvez esse eu seja mesmo tão diferente de eus do passado ou de eus que ainda estão por vir. Quando tentamos nos definir acredito que o fazemos baseado nos sentimentos que estão conosco no momento, e sentimentos mudam. Também outras sensações, que não são necessariamente sentimentos, têm muita influência em quem nós somos e em que acreditamos. A fome, o sono, o desconforto físico e muitas outras coisas podem mudar os nossos pensamentos de direção. As relações entre os produtos químicos dos quais somos feitos também alteram muito o que a gente é, inclusive na nossa fisionomia. Essas relações mudam toda hora. Como podemos nos definir para o mundo? Ou para nós mesmos? E se eu disser que sou algo hoje e mudar de ideia amanhã? Será que só eu tenho esse problema? Parece que é importante que possamos nos definir para possibilitar a existência de relacionamentos com outras pessoas. Talvez para que outras pessoas possam saber o que esperar da gente e vice versa. Mas acho que é importante que fique sempre em mente a existência da volatilidade do ser humano e como ele é facilmente influenciado por fatores que estão fora de seu controle.

Talvez produzir arte seja a capacidade de estar em contato com sentimentos e sensações, sentir todos profundamente, viver intensamente, ter eles à flor da pele e então ser capaz de expressar eles de alguma maneira. Tudo isso sem perder completamente a sanidade, mas flexibilizando a sua noção. Dissolver as fronteiras físicas, as fronteiras dos significados. Perder a noção que temos de dualidade. Ver o mundo como ele é, nem isso nem aquilo, mas tudo ao mesmo tempo. O perfeito é o imperfeito, o bom é o mau, a unidade é o todo. O tudo é o nada.

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