Citações

"Até aquele momento, as viagens, a idéia de ir para longe, tudo parecia um sonho - e sonhar é muito confortável, desde que não sejamos obrigados a fazer aquilo que planejamos. Assim, nãopassamos por riscos, frustrações, momentos difíceis, e quando ficamos mais velhos, poderemos sempre culpar os outros - nossos pais, de preferência, ou nossos maridos, ou nossos filhos - por não termos realizado aquilo que desejávamos."

"Do diário de Maria, em um dia em que estava menstruada e não podia trabalhar:

Se eu tivesse que contar hoje a minha vida para
alguém, poderia fazê-lo de tal maneira que iriam me
achar uma mulher independente, corajosa e feliz. Nada
disso: estou proibida de mencionar a única palavra que
é muito mais importante que os onze minutos - amor.
Durante toda a minha vida, entendi o amor como
uma espécie de escravidão consentida, É mentira: a
liberdade só existe quando ele está presente. Quem se
entrega totalmente, quem se sente livre, ama o máximo.
E quem ama o máximo sente-se livre.
Por causa disso, apesar de tudo que posso viver,
fazer, descobrir, nada tem sentido. Espero que este tempo
passe rápido, para que eu possa voltar à busca de
mim mesma - refletida em um homem que me entenda,
que não me faça sofrer.
Mas que bobagem é essa que estou dizendo? No
amor, ninguém pode machucar ninguém; cada um de
nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos
culpar o outro por isso.
Já me senti ferida quando perdi os homens pelos
quais me apaixonei. Hoje estou convencida de que
ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém.
Essa é a verdadeira experiência da liberdade: ter a
coisa mais importante do mundo, sem possuí-la."


"Do diário de Maria, na véspera de comprar sua passagem de avião para o Brasil:
Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de
asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas.
Enfim, um animal feito para voar livre e solto
do céu, alegrar quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou
por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de
espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos
brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e
os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela
admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas
montanhas distantes! E a mulher sentiu medo.
Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E
sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou:"Vou montar uma armadilha. A próxima
vez que o pássaro surgir, ele não mais partirá."
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou
no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os diasela olhava o pássaro. Ali estava o
objeto de sua paixão, e ela mostrava para suas amigas,
que comentavam:"Mas você é uma pessoa que tem
tudo." Entretanto, uma estranha transformação começou
a processar-se: como tinha o pássaro, e jánão precisava conquistá-lo,
foi perdendo o interesse. O pássaro,
sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida,
foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher
já não prestava mais atenção nele, apenas na maneira
como o alimentava e como couidava de sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente
triste, e vivia pensando nele. Mas não se lembrava
da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela
primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que
aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua
librdade, a energia das asas em movimento, não
o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido,
e a morte veio bater à sua porta. "Por que você veio?",
perguntou à morte.
"Para que você possa voar de novo com ele nos
céus", respondeu a morte. "Se o tivesse deixado partir e
voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais;
entretanto, agora você precisa de mim para poder
encontrá-lo de novo.""



Onze minutos - Paulo Coelho


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