Não digo não digo

Eu queria ter o ouvido do Lido que ouve pouco, mas ouve tanto que pode até falar. Queria tocar o bandolim amadeirado que emite os sons das cachoeiras da terra de dona Zinar. Queria falar a línguas dos peixes astronautas do Equador. E tecer os panos que vestem os mamelucos que sentem muita dor. Queria ser sambista e escrever um samba que acabasse com todo tormento. Queria ser um poste que vai lá no alto sem desgrudar do cimento. Quero um mundo novo em que as borboletas verdes voem em movimento espiral. Quero saber que posso dormir ou acordar que não importa, estarei, estando eu em qualquer mundo, no mundo real. O que eu quero na verdade eu não quero nem dizer. O que eu quero todo mundo quer. Tanta gente quer que eu nem quero mais. Se eu dissesse não seria eu, a não ser que falasse o que querem outros. Agora falta algo para ser querido. Porque tenho querer demais escapando pelo meu umbigo.

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