Meet me in Montauk

Ontem fui assistir ao final do filme "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" para me curar de uma crise de tosse. Fazia muito muito tempo que eu não tinha uma crise como esta última, tomei litros de água e tentei me acalmar, mas só parecia piorar. Felizmente tem um anjinho na minha vida, que se chama Tuíla, que fez um leitinho quente com mel pra mim e me deu uma pastilha. Além disso, pensei que me distrair ia ajudar a tosse a ir embora, por isso me sentei e descobri, com satisfação, que estava passando o filme.
É o tipo de filme que me deixa pensando depois que acaba. Ele fala do desespero de se ter uma forte paixão que não é correspondida e das medidas extremas que se é levado a tomar. Acredito que a ideia de apagar alguém das lembranças já tenha passado pela cabeça de muitos amantes frustrados e parece realmente tentadora para alguém que enfrenta a dor de uma perda(ou não conquista) amorosa.
De acordo com o meu entendimento, o filme retrata a possibilidade de deletar alguém da memória como algo ruim e inútil. O casal principal tem a sua memória apagada e isso não o impede de estar junto no final. Enfim, fui levada a comparar a total exclusão das lembranças que se tem de uma pessoa com o esquecimento gradativo de como alguém importou na nossa vida. O esquecimento gradativo vem munido do poder da distorção dos fatos e das lembranças dos mesmos, o que me leva a pensar que talvez seja mais efetivo se o objetivo for a separação definitiva do desejoso e seu desejado. Quando algo na gente é machucado por vezes seguidas criamos um calo que nos permite sentir menos ou até não sentir nada caso a situação que machuca aconteça novamente. Se você apaga todas as lembranças sobre alguém, apaga também as dos momentos ruins, e as lembranças dos momentos ruins são uma arma poderosa quando é preciso se livrar da vontade de estar com alguém. Começar do zero sem o acúmulo de informações de uma vivência anterior é o caminho mais fácil para cometer os mesmos erros, inclusive.