complexa

Anabela sabia  o que estava fazendo, daquela vez ela sabia. Tinha errado tantas vezes que agora podia ter certeza. No fundo da alma tinha ainda um pouco de medo, mas havia compreendido que o medo faz parte da vida e que se aprende a conviver com ele. E, ademais, o medo era um dos fatores que a fazia ter tanta certeza de que sabia o que estava fazendo. Que era como nas outras vezes. Sabia o que estava fazendo e sabia que no final iria dar tudo errado, porque aquela era a única possibilidade. Ela sabia disso pois havia feito tantas e tantas vezes, e o resultado era sempre o mesmo, não havia o que fazer, não tinha como errar, aquele era o fim mais preciso. Sofria por antecedência pois sabia que era melhor sofrer aos pouquinhos até o final do que se iludir e sofrer tudo junto de uma só vez. Apesar de que sabia também que sofreria o tudo mesmo sofrendo os pouquinhos. Mas não se importava, também tinha aprendido a conviver com o sofrimento.
Estava especialmente feliz e radiante naquela manhã. Havia decidido casar-se com Manoel e sonhara a noite inteira com milhões de planos sobre onde morariam e as viagens que poderiam fazer juntos. Passava pó de arroz no rosto sorridente e se preparava para plantar a sua primeira árvore - era um costume da família plantar uma árvore cada vez que se noivava, tia Clotilde já tinha uma dúzia em seu quintal, seu noivo sempre desaparecia misteriosamente 3 dias antes da cerimônia.
Sabe que no final Manoel preferiu casar com a tia Clotilde. Era um homem muito bom a havia ficado tocado com a sua história, além de ser um grande amante das árvores. Não havia sido a toa que Anabela se apaixonara por ele, homem tão generoso. E, no fim das contas, ela já sabia que tudo ia dar errado, não existia outra maneira. Estava feliz regando a sua árvore, que agora já batia em seu joelho.

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