Diário de viagem - Auckland no Rio de Janeiro

Niterói, 30 de Novembro de 2019.

14:39 horas

A viagem entre Auckland e Buenos Aires foi uma tortura. As dúvidas dominando os meus pensamentos. O que eu estava fazendo? Tinha tomado a decisão certa? É impossível saber se as nossas decisões são as mais acertadas porque não podemos vivenciar essa realidade paralela onde uma decisão diferente foi tomada. No final as nossas decisões vão sempre ser as mais acertadas porque são as únicas que temos, precisamos fazer com que funcionem.

Dormi muito pouco durante o vôo, apesar de estar exausta. Comi quase nada, o meu estômago completamente revirado. No meio da viagem desceu a minha menstruação. Aquela poltrona do avião nunca foi tão desconfortável, e olha que eu viajei na premium economy outra vez. Fiz a escolha equivocada de assistir ao filme "Nasce uma estrela" e chorei no final. Talvez a experiência näo tenha sido pior porque sentou do meu lado um senhor argentino tagarela que me obrigou a me distrair com conversas em espanhol.

Durante a minha espera pelo vôo de Buenos Aires para o Rio percebi que o aeroporto estava lotado de torcedores do flamengo, devidamente uniformizados e munidos de bandeiras enormes. Cada vez que chegava mais um com a camisa do time cumprimentava a todos como se estivessem se encontrando na sede do fâ clube e se conhecessem já fazia tempo. Volta e meia um deles puxava um pedaço do hino ou um grito de "MENGO!" e os outros acompanhavam. Acontece que no dia anterior o Flamengo tinha vencido a Libertadores contra o River Plate. Muitos dos torcedores que foram ao Peru para ver o jogo faziam conexão em Buenos Aires para voltar para casa. Para mim pareceu uma grande provocação, aproveitando que estavam no meio dos argentinos, tanta demonstraçao rubro-negra.

O avião que peguei de Buenos Aires para o Rio parecia um avião fretado para a torcida do Flamengo. Ao me aproximar só vi pessoas uniformizadas na fila que entrava para o vôo. Entrou no avião também um grupo de meninas cheias de flores de plástico na cabeça. Achei estranho e pensei "acho que erraram a data do carnaval no Rio..."

Durante esse vôo eu dei uma dormida, dei uma chorada e escrevi uma música pela primeira vez na minha vida. Porque nessa jornada para me tornar escritora e encontrar a artista dentro de mim eu descobri que tenho um super poder. Talvez uma responsabilidade ao mesmo tempo. Bem homem aranha. Eu descobri que tenho o poder de colher toda a dor por que passo e transformar ela em algo novo, em algo belo.

Depois que o avião aterrissou, algumas pessoas bateram palmas. O grupo de meninas carnavalescas gritou "Olê, olê!". Após os anúncios regulares no auto falante, uma das aeromoças disse que "as Aerolineas Argentinas gostaria de parabenizar a menina que estava viajando para a sua despedida de solteira", solucionado o mistério do carnaval fora de época. Todos os passageiros então bateram palmas. Os flamenguistas aproveitaram as palmas para puxar o hino do Flamengo, ouviram-se vaias. Um dos comissários de bordo anunciou no alto falante, em espanhol, que "as Aerolíneas Argentinas gostaria de parabenizar o Flamengo pela merecida vitória". Os flamenguistas foram a loucura. Mais palmas. Eu amo esse continente.

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