Diário de viagem - Me aventurando na Nova Zelândia

Auckland, 13 de Novembro de 2019.

16:07 horas

Que friaca da desgraca. Não era para ser verão, gente?! Alguém avisa para Nova Zelândia que já é verão, por favor. Eu estou nesse momento sentada no chão da minha sala no cantinho onde bate o sol para poder me esquentar. Se o sol fosse mais constante esquentaria o mundo por aqui, mas foi um início de semana de chuvas e hoje que o sol resolveu aparecer, mas veio acompanhado das amigas nuvens. O sol aparece "ah que quentinho gostoso!", o sol se esconde "ah! que frio cruz credo!". E esse apartamento aqui não está nem um pouco preparado para o frio, eu não consigo imaginar uma pessoa sobrevivendo aqui no inverno se no verão já estamos passando sofrência. Levantar da cama é uma luta, mas nós somos bravos guerreiros e vamos vencer essa guerra vestidos de nosas armaduras, meias grossas e mangas compridas.

Tem algo sobre o qual eu gostaria de falar hoje. Queria falar sobre essa experiência de me encontrar de repente em uma realidade na qual pela maior parte do meu dia a maioria das pessoas que eu conheço e com quem me comunico estão dormindo. É muito estranho, e porque não dizer desafiador, morar 16 horas no futuro em relação a quase todo mundo que é importante na minha vida, quase todo mundo que eu conheço e com quem me comunico. Para mim acho que tem sido ainda mais difícil do meio da tarde para a noite porque nessas horas o Nebojsa está trabalhando e todo o resto do meu mundo está dormindo. Tenho que conhecer mais gente por aqui e fazer amigos e tal? É claro que sim, mas se muda para outro país e faz amigos assim tão fácil e depois me conta. Já conheci umas poucas pessoas com quem já fui no bar, já joguei totó e dardos, já bati papões e tal, mas não se faz um amigo assim de uma hora para outra, a não ser em situações muito específicas. Na Itália foi mais fácil para mim, fiz muito bons amigos relativamente rápido. Mas eu morava em uma residência universitária com um monte de gente e eu ia em eventos organizados pela universidade porque eu era estudante e podia conhecer pessoas na mesmo situação que eu nesses eventos. Nunca mais foi tão fácil. Eu morei cinco meses na Itália e formei uma família lá com amigos queridos que carrego para o resto da minha vida. Eu morei quase três anos na Noruega e não consegui a mesma conexão com ninguém. Aqui não tenho conexão com nenhuma instituição de ensino, nem trabalho, moro só eu o meu namorado e não compartilho nada com ninguém. Vai ser necessário ser muito ativa para gerar uma oportunidade de conhecer pessoas com quem eu possa estabelecer uma amizade em algum nível. Essa semana eu cheguei a ir a um encontro de escritores em um café aqui perto. Instalei o aplicativo meetup no meu celular e vi esse evento em que aspirantes a escritores se encontrar para compartilhar o que estão escrevendo e trocar críticas construtivas. Pensando pelo lado da escrita eu achei o encontro muito legal, pude ler  o trabalho em andamento de pessoas que parecem ter muito potencial e consegui até contribuir com alguns comentários. Pensando pelo lado social não pareceu ser muito bom, não senti que havia abertura para papos paralelos, todos estavam muito concentrados nas tarefas propostas e no final todo mundo levantou e voltou para as suas vidas, não sei nem o nome das pessoas. De qualquer forma eu devo ir de novo, talvez leve algo que eu tenha escrito, de repente conheço alguém efetivamente. Enfim, eu me sinto sozinha muitas vezes. Existe também um grande contraste com o estilo de vida que eu estava levando no Brasil, eu estava em uma fase bem social sempre com alguma companhia.

Outra coisa muito louca em relação ao fato de eu estar morando no futuro foi o que aconteceu em relação ao meu aniversário. Eu acordei no dia 31 de outubro neozelandês e tenho que confessar que fiquei um pouco triste quando peguei o meu celular e não vi nenhuma mensagem de parabéns esperando por mim. Achei que  ninguém mais me amava. Demorou um tempo para que eu percebesse que não era realmente o meu aniversário ainda porque o dia 31 ainda não tinha chegado no Brasil. Acabou que no final eu tive dois dias de aniversário porque o pessoal que tava aqui me desejou feliz aniversário dia 31 daqui (isso quer dizer duas pessoas), algumas pessoas se ligaram na diferença de horário e me deram parabéns nesse dia também e daí recebi mil mensagens no dia 31 do Brasil.

Outra coisa do dia 31 foi o como eu fiquei chocada em perceber que era dia das bruxas. Cara, eu estava andando no centro da cidade e via aqui e ali alguma pessoa com uma mancha vermelha na cara ou uma peça de fantasia. Por um momento eu achei que era algo do tipo cosplay ou sei lá, essa gente estranha que sai por aí fantasiada no meio da rua. Ou sei lá que modas esses jovens estão usando hoje em dia (sim, tenho 78 anos). Mas aí, quando eu estava caminhando os 300 quilômetros que me levaram a tal da casa que eu supostamente deveria visitar para talvez alugar em Ponsoby (volte uns posts, filho, se não sabe o que estou falando), eu vi hordas de crianças fantasiadas batendo de porta em porta pedindo doce. Foi aí que eu me toquei que era dia 31 e não era só o meu aniversário, era também dia das bruxas! E foi engraçado porque é o primeiro país em que já estive que as crianças saem fantasiadas fazendo "trick or treat". Não sabia mais se eu estava em Auckland ou em um subúrbio de filme americano.

E, cara, já já é Natal, que loucura. Eu não sei não, eu acabei de vir para cá e comecei tanta coisa do zero, a sensação que tenho é que estamos em Janeiro. Mas as decorações natalinas não me deixam esquecer que logo logo vem o papai Noel.

Decoração de Natal gigante que apareceu no centro da noite para o dia.

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