Diário de viagem - Auckland no Rio de Janeiro

Niterói, 02 de Dezembro de 2019.

18:12 horas

Faz uma semana que eu voltei e essa semana inteira foi dominada pelo jetlag. Ainda hoje estou com sono e cansada o dia inteiro porque acordei às quatro da manhã e tive dificuldades para voltar a dormir. Eu fiquei até imaginando que saco deve ser se alguém que mora na Nova Zelândia resolve vir passar férias no Brasil. A pessoa deve perder dias de férias só para se adaptar ao novo horário.

A gente acha  que entende a vida, mas é tudo uma ilusão. Quando temos certeza que entendemos tudo a vida dá um jeito de mostrar que estávamos errados. Então, afinal, como devemos encarar a vida? Talvez a vida não seja para ser entendida, apenas para ser vivida. Fazemos o melhor que pudemos com o que a vida nos apresenta em cada momento. Às vezes parece que o nosso melhor não é o suficiente, mas do que sabemos de verdade? Nada. De qualquer forma, as coisas que aconteceram já aconteceram e ficar se culpando por elas não vai mudar isso. Precisamos aceitar, aprender e seguir adiante.

Eu preciso dizer que tem uma coisa que me faz sentir feliz por estar de volta. Gatos. Por favor não se ofendam humanos, mas os gatos me fazem feliz.

Ah, eu acho que não contei. No fim das contas o meu pedido de visto de turismo para a Austrália foi negado. Vejam vocês que um dos motivos da minha tristeza por não estar mais por aqueles lados do mundo deixou de existir. Pelo que entendi a pessoa responsável por decidir o meu futuro em relação ao visto não estava convencida de que eu não iria desrespeitar as regras do visto. A criatura em questão achou que eu fosse tentar ficar no país ilegalmente. A justificativa para tal foi o fato de que eu não tenho um emprego formal. Eu fui sincera e na parte em que precisava informar a minha ocupação coloquei "escritora autônoma". Poderia ter colocado "professora de inglês autônoma", mas acho que o problema do homem foi com a parte que dizia "autônoma". Eu sei que era um homem porque no documento de recusa do visto tem o nome do oficial responsável, provavelmente para que eu possa me vingar dele posteriormente. Eu enviei provas de que tinha dinheiro para viver lá durante o período de três semanas que era o tempo que eu pedia no visto. Mandei meu extrato bancário e o limite do meu cartão de crédito. O digníssimo disse que não tinha como saber de onde vinha aquele dinheiro e usou isso também como justificativa para a recusa do visto. Não ter vínculos empregatícios então foi o que me tornou inadequada para ser turista na Austrália. Não fazer parte do sistema de exploração laboral que te dá um "dono" que paga o seu salário. É claro que os fatores subjetivos que fizeram ele não confiar que eu não respeitaria o visto não foram declarados no documento de recusa. Imagino que outra pessoa na mesma situação que eu poderia ter conseguido a aprovação se tivesse uma cara diferente ou fosse de uma nacionalidade diferente. Eu já comentei que eu acho essa história de visto ridícula?

Pensar em algumas coisas ainda me machuca. Pensar nas coisas que aconteceram e nas coisas que não aconteceram. Me machuca pensar nas coisas que não podem mais acontecer. Apesar disso, eu consigo notar o desenvolvimento da minha adaptação à nova realidade. A cada dia me sinto mais calma. A cada momento encontro novas fontes de alegria. Minha esperança e a minha capacidade de me sentir grata aumentam com o tempo. Estou mais atenta e espero que mais consciente também. Acredito que estou na estrada rumo ao perdão. Com o tempo eu sinto meus olhos se fechando para as coisas que estão lá e que não posso ter e se abrindo para as coisas que estão aqui e que estão ao meu alcance. E se torna cada vez menos estranho estar de volta por aqui. E eu me torno cada vez menos uma estranha. 

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