Mau humor, Rio de Janeiro e Porto Alegre

Porto Alegre, 18 de Dezembro de 2019.

21:44 horas

Que dia longo! Acordei em Niterói, passei boa parte do dia no Rio e terminei em Porto Alegre.

Acordei às sete da manhã porque queria ter tempo de terminar de pôr as coisas dentro da mala e ajeitar as coisas em casa com calma antes de partir para o aeroporto. O meu vôo estava marcado para sair ao meio dia de quarenta e cinco e eu planejava chegar para fazer o check-in umas dez para garantir. Fui dormir às duas da manhã na noite anterior porque agora eu criei a mania de arrumar a mala só em cima da hora e eu queria ir no cinema com a Karina. Cheguei em casa do cinema depois da meia noite e ainda tinha a mala para arrumar. Cara, tem coisa mais desagradável do que se obrigar a acordar quando seu corpo não teve horas de sono suficientes? Eu acho difícil de achar algo que se compare. Eu acordo enjoada, tonta e mal humorada. Fico o dia todo com sono e com o cérebro funcionando à 50%. Sono é uma coisa muito importante para mim. Sono, comida e sexo. Como viver sem? Sem qualquer outra coisa dá-se um jeito. Ah, sem sol também não dá para viver. A Noruega me provou isso.

Olha, eu acordei cedo e já estava de mau humor, e já estava um calor de 79 graus na sombra. Aí né, resolvi pedir um Uber para me levar ao aeroporto para que fosse mais rápido e mais confortável que o ônibus. Mermão... peguei um Uber horrível, véi. A criatura do motorista ficava economizando ar condicionado em um dia em que estava fazendo 477 graus à sombra. Primeiro ele foi me buscar com o ar desligado né. Com as janelas um pouco abertas. Aquele banco de couro. Sentei e as minhas costas já grudaram alí. Fiquei tentando imaginar que químicos pesados eu iria ter que usar para desgrudar. Aí, começamos o trajeto e a criatura que dirigia o carro resolveu me pedir um favor, ele queria parar no posto para colocar gás no carro. Falei "tá bem né", não leva muito tempo parar para abastecer. Mas aí o homem se dirigiu a um posto específico que ficava lá no final de Santa Rosa, fora do caminho para a ponte. Já pensei "Fudeo, vou morrer". Mandei minha localização para a Karina e pedi para ela cuidar de mim. Isso tudo dentro do carro do inferno porque o ar ainda estava desligado e eu estava derretendo. O tal do posto que ele queria estava muito cheio e ele resolveu ir para um mais longe ainda onde ainda tivemos que esperar em uma fila de carros para abastecer. E eu preocupada com o horário de chegar no aeroporto. Entre um posto e o outro eu resolvi perguntar para o motorista se o carro não tinha ar condicionado. Aí ele se fez que estava para me perguntar se era para ligar o ar e eu que já tinha achado muito sem noção num dia quente daqueles ele não estar já com o ar ligado antes de eu entrar no carro. Pior ainda eu ter que chegar a pedir para ligar o ar gente, e ele fazer de conta que estava para oferecer. Mas o pior de tudo é que o carro não gelava e eu tive uma impressão muito forte de que ele ficava ligando e desligando aquela bosta. Acabei indo de sauna para o aeroporto e não de carro. O pior é que ele ainda ficava tentando ser simpático e puxar assunto e eu só queria meter a mão na cara dele. No final ainda ficou agradecendo a minha paciência e a minha educação, ignorando o fato de eu não ter nem uma e  nem a outra comigo naquele momento, ficou tudo em casa debaixo do travesseiro. Cheguei no Galeão com a bunda suada, Deus me livre!

O verão no Rio de Janeiro é uma coisa maravilhosa. O carioca fica o ano inteiro esperando chegar o verão só para poder passar o dia reclamando do calor. Porque vamos falar sério aqui, reclamar é muito bom né. A gente adora uma desculpa para reclamar das coisas. Assim, não que não haja motivos para reclamação, mas mesmo que não houvesse a gente inventava. Foi assim que o cérebro humano foi criado. Reclamar é tão vital quanto beber água. E se alguém apresenta uma solução para o problema que afirmamos ter ficamos irritados com o desgraçado que está querendo roubar de nós o motivo que encontramos para reclamar. Como se atreve?!

Eu amo o verão. Só que assim, eu quero passar calor e suar os sovacos na praia ou na beira da piscina. No engarrafamento eu quero ar condicionado, obrigada.

Vamos ignorar aqui o fato de que eu esperei o tempo todo na fila do embarque para o avião que ia para Florianópolis porque é muito vexame. Vamos pular para quando entrei no aviäo certo depois de me dar conta do erro e furar a fila do voo certo, porque né, eu já tinha esperado o suficiente na fila errada. Entrei no avião e, ao chegar ao lugar onde ficava o meu assento vi as duas pessoas que viajariam ao meu lado já sentadas. Como eu tinha o assento de janela precisei pedir licença. A moça que estava sentada no assento do corredor era muito simpática e me disse que senhora que estava sentada no meio não podia se levantar do assento. A senhora me pediu para eu passar por cima dela se eu fosse capaz e é claro que eu sou capaz. Não se preocupem, cheguei no meu assento sem que ninguém ficasse ferido. Eu preciso passar pelo detalhe aqui que tinham dois capetas sentados atrás de mim no avião. Gente, criança não tem capacidade de ficar sentada, esses pais ficam deixando eles encherem o bucho de coca-cola aí eu é que sofro. O menino sentado atrás de mim ficava batendo repetidamente na minha poltrona. Em um determinado momento eu virei para trás com a cara de quem mata crianças e ele deu uma parada. Enfim, acabou que a senhorinha sentada do meu lado era uma faladeira. Mas a sorte é que a moça da poltrona do corredor era um anjo em forma de gente e as duas ficaram batendo papo o voo inteiro. Eu estava morrendo de sono, coloquei meus fones de ouvido, virei para o lado e fechei os olhos. Não sem antes escutar um pouquinho daquele papo maravilhoso entre as duas lindas. No final, quando o avião estava pousando eu tirei os meus fones e a senhorinha veio falar comigo também. Dona Catharina tinha 97 anos, completamente lúcida, viajando sozinha. Começou me dando lições, me dizendo que estudar é muito importante e me dizendo que eu deveria me formar. Eu disse a ela que achava que eu era mais velha do que ela pensava e perguntei quantos anos ela me dava. Ela disse uns vinte. Ganhei meu dia alí né. Contei para ela que tenho 31 anos e um mestrado nas costas. Ela ficou surpresa. Me perguntou se eu era casada ou solteira. Respondi solteira e daí foi a minha vez de ser surpreendida quando ela demonstrou aprovar o meu estado civil e me disse que eu estou no caminho certo e que continue assim.

Eu tinha mais coisa para contar e queria por tudo de uma forma mais bonita também. Mas ainda estou com muito sono e com o cérebro funcionando só pela metade. Então vou ficar por aqui e deixar vocês com a vista linda das nuvens que eu tive durante o voo.




Comentários

Postagens mais visitadas