Alice no país da quarentena

Alice já nem lembra qual o som da própria voz. Durante todo o dia deve ter dito apenas umas dez palavras. Pensa em cantar em voz alta, mas percebe que não tem ânimo. Até há com quem falar, mas não tem o que dizer. Seu pensamento se tornou vazio.
Naquele dia frio, Alice colocou uma chaleira no fogo para esquentar um pouco de água. Sentiu que queria beber um chá. Estava sem dormir bem fazia algum tempo então escolheu preparar uma infusão de camomila. Naquele dia tão sem sentido, esperar a água ferver lhe parecia um suplício. Saiu da cozinha e foi procurar o que fazer, mas não pode encontrar alguma atividade que fosse durar o tempo da água, então acabou apenas dando uma volta pela casa.
Chá pronto, Alice pendurou a rede e foi se deitar. Apesar de ter feito tantas coisas naquele dia sentia como se não tivesse feito nada. O sentia todo o seu ser meio anestesiado. Qual é o sentido de tudo isso, afinal? Para que estamos aqui? Quem somos sem outros em volta? Quem somos se não usamos nossas vozes?
Dormiu. Acordou sem saber se era já um outro dia. A passagem dos dias já não importava. Levantou-se e foi se deitar no sofá e logo depois foi para a cama.
O chá ficou ao lado da rede sem nem um gole a menos. Agora frio, esperando para ser jogado fora.

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