O que eu aprendi na quarentena

Eu fiz yoga hoje de manhã. Tenho feito yoga todos os dias, é um dos hábitos que esse tempo de quarentena tem me permitido cultivar. Eu uso um aplicativo para ter a sensação de estar em uma aula de yoga, com um instrutor me dizendo que fazer, quando fazer e como fazer. Resolvi começar devagar, então eu costumo selecionar meia hora de yoga iniciante com três minutos para ficar meditando em shavasana. Shavasana é a pose do morto, tem que ficar deitado de barriga para cima com as pernas e os braços relaxados ao longo e todo o corpo parado sem fazer nada. Às vezes eu consigo usar o momento da shavasana para me conectar comigo mesma e aprender mais sobre mim. 

Depois que o tempo de ficar em shavasa termina, a moça do aplicativo fala cuidadosamente para que eu tome consciência da minha respiração novamente e volte para o meu corpo. “Mexa vagarosamente seus dedos das mão e dos pés”, ela ordena. Eu hesito por um segundo naquele estado gostoso de imobilidade, mas obedeço. 

Hoje comecei mexendo meus dedos dos pés e foquei na sensação de um dedo coçando o outro. Que gostoso que é tomar consciência do próprio corpo e de tudo que ele nos proporciona. Comecei a perceber que tenho bastante controle para mover o meu dedão do pé e posso separar ele dos outros dedos para bem longe sem mexer o resto. Eu acho que tenho pés mais fortes que a média por conta dos dezessete anos de ballet. Percebi também que posso mexer o dedão para frente e para trás. Além disso, tenho um bom controle sobre a movimentação do meu mindinho. Consigo separar ele amplamente para longe do resto do pé. Mas sabe aqueles três dedos entre o dedão e o mindinho? Estes sempre se movem juntos. Parece que não possuem personalidade própria, o que um faz o outro copia. Se tento separar um, os outro dois vão atrás. Se um dobra para frente os outros dois vão correndo para alcançar o movimento. 

Isso que me mostrou o meu pé de maneira bem táctil e didática também me mostrou a quarentena. Tem coisas que a gente não pode controlar.