Reflexão sobre a (minha)impulsividade

Eu sou uma pessoa impulsiva, mas ao mesmo tempo eu penso nas coisas que estou fazendo medindo as consequências. Faz sentido isso? Acho que é assim: me dá vontade de fazer algo, às vezes eu vou lá e faço e às vezes eu atraso um pouquinho. A questão é que na maioria das vezes eu atraso um pouquinho, mas vou lá e faço igual. Nesse tempo de atrasar ou até no tempo de ir lá fazer a coisa, meu cérebro está trabalhando pensando nas consequências e julgando o que quer que seja que eu estou prestes a fazer ou estou já fazendo. Mas poucas vezes a consciência de que as consequências podem ser negativas me faz não fazer o que quer que seja.

Impulsividade. Eu estou falando de impulsividade. De como sou impulsiva. Talvez isso tenha a ver com a minha intensidade. Sentimentos muito intensos que trazem essa urgência para agir. Eu gosto. Dá errado muitas vezes, mas eu gosto mesmo assim. Eu gosto muito de mim. Gosto da maneira como eu sou imperfeita. Não gosto de tudo, mas gosto do todo. Gosto do conjunto que formam todas essas eus.

Para ser capaz de me aprimorar eu preciso primeiro descobrir e aceitar o que eu sou. Claro que não acredito que serei capaz de me conhecer completamente no curso de apenas uma vida. Mas é importante manter abertos os olhos e os canais de conexão de mim comigo mesma. Manter todas as minhas partes em contato umas com as outras. Ter conversas abertas e francas comigo. Não esconder ou negar pedaços meus que possam parecer feios. São todos parte do meu todo. E o que pode parecer feio em um momento muda de fisionomia debaixo de uma outra luz.

E também, sabe de uma coisa? Se não fazemos algo não podemos saber se vai dar certo ou errado. Além disso, de vez em quando coisas que parecem ter dado errado no fim foram coisas que deram certo, a gente é que não sabe.

É muito dual esse jeito de entender o mundo né, dividindo os acontecimentos em coisas que deram certo e coisas que deram errado. De repente acontecimentos são só acontecimentos, não são nem bons e nem ruins. Mania nossa essa de querer atribuir juízo de valor a tudo que nos cerca. As coisas acontecem e nos resta apenas decidir o que fazer com o acontecido, ou o que não fazer. Às vezes não há nada a ser feito em relação ao acontecido, nada além do reconhecimento e do desapego. Daí depois é só decidir qual será o próximo passo. Ver que cartas temos nas mãos. Normalmente temos muitas, sem contar com aquelas escondidas nas mangas das quais esquecemos muitas vezes. Tem sempre um jeito de bolar a nossa próxima jogada. Aí não falei um bom jeito, nem um mau jeito, só um jeito, não tem que ser bom nem ruim, é só o que é.

O trabalho atual é o de despir as coisas de suas máscaras de juízo de valor. Despir tudo de todas as camadas a chegar a seu centro nu e cru. É um desafio, uma coisa muito difícil. É muito comum para nós conectar qualquer coisa a sentimentos e emoções. Assim que fomos configurados. Trabalham assim as conexões do nosso cérebro. Assim nos protegemos do perigo. Nos blindamos contra tudo o que é mau, ruim, maligno. Nos abrimos para tudo o que é bom, benigno.

E se paramos de classificar tudo dentro desses parâmetros, o que acontece? Talvez possamos começar a nos abrir para coisas contra as quais nos blindávamos antes e perceber que ainda continuamos vivos. Podemos ver o mundo sem o véu do medo por cima. Isso tudo é um talvez né, eu não sei de nada, eu só invento, imagino, reflito, só isso. Não sei nem se seria capaz de despir o mundo completamente para os meus olhos. Mesmo que consiga fazê-lo racionalmente ainda não entendo e nem domino por inteiro a parte de mim que se deixa afetar emocionalmente pelo que quer que seja. Dessa parte sou mera observadora. Vejo muitas coisas acontecendo sem entender realmente. Mesmo quando entendo não tenho influência suficiente para alterar o rumo das coisas.

Mas eu comecei falando sobre impulsividade. Sobre como sou impulsiva. Acho que isso pode ter a ver também com a gente confiar em nós mesmos. Acreditar que nem tudo pode ser limitado ao racional e nem ao consciente. Acreditar que existe toda uma mente inconsciente dentro de nós a qual não podemos entender usando nossa lógica habitual, e que essa mente sabe muito. Acreditar que podemos confiar nela para tomar decisões também, ou para dar o seu parecer e influenciar decisões tomadas pela mente consciente. Seria seguir a nossa intuição. Seguir nossos impulsos, sem pensar tanto, confiando mais. Confiando mais em nós mesmos.

Acho que tudo isso tem a ver com o que eu falei de manter os canais abertos. Manter todas as nossas partes conversando. Se manter em conexão. Eu diria em conexão consigo mesmo, mas por que não com o todo? Com aquele algo que gostamos de acreditar que existe que é maior que tudo e que todos e que é ao mesmo tempo composto de tudo e de todos. Seria então uma conexão com tudo, com todos, com o todo e conosco. Construir a ponte entre a nossa natureza única e a nossa natureza como parte desse todo.


Comentários

Postagens mais visitadas