Relatos de uma quarentena em Niterói

11.05.20

Praise the Lord! We have blood.

Chegamos enfim ao final de mais um ciclo de TPM. Conseguimos passar por esses dias sombrios sem fazer mal aos outros ou a si mesma. Parabéns a todos os envolvidos; nesse caso só eu mesma. Acordei com medo de que o sofrimento fosse durar por algum tempo ainda e eu não tinha certeza se eu poderia me manter forte, mas felizmente tudo chegou ao fim e eu posso ver dias mais promissores à frente.

Estou tendo uma crise de identidade. Já contei que escrevo essas três páginas todas as manhãs, é uma prática meio terapêutica. Nesses últimos dias tenho usado o espaço dessas páginas para fazer reflexões sobre mim mesma. Uma coisa boa do sofrimento da TPM é que parece que eu me coloco sob um microscópio e analiso várias das minhas paranóias. Hoje de manhã eu concluí que estou passando por uma crise de identidade. Passei por diversos pontos que não vou expor aqui, mas cheguei a algumas conclusões. Uma delas é que a noção que temos do nosso "eu" é formada nas relações interpessoais, uma outra é que existe uma ligação muito forte entre a noção de identidade, o sentimento de pertencimento e a sensação de conexão com o outro. E me faltam todos esses fatores atualmente, eu sinto.

O problema para mim começou faz já algum tempo e envolve um monte de acontecimentos quase que em sequência que foram dissolvendo aos poucos os aspectos da minha identidade. Até que cheguei em um momento em que não sei mais quem eu sou, eu não sei do que eu gosto, não sei o que eu quero. O isolamento social provocado pela pandemia tem agravado o problema porque eu não tenho oportunidades de me ver atuando no mundo e não sei mais que tipo de pessoa eu sou porque não me vejo reagindo às situações cotidianas. Estou morando na minha bolha, onde só vivo eu e dois gatos. Se eu quiser, posso passar um dia inteiro sem trocar uma palavra com ninguém e sem ter contato com absolutamente informação nenhuma sobre o mundo.

Eu tô considerando começar a fazer terapia. Mas uma atitude que tomei hoje foi a de combinar conversas com amigos porque percebi que precisava de algum diálogo. Acabei conversando pelo Skype com a Suenne por mais de duas horas, foi ótimo. Eu já me sinto um pouco menos alheia, um pouco menos estranha. Acho que pude ver uma fagulha de pertencimento e de conexão.

Não vejo a hora de ter a minha liberdade de volta para sair por aí e descobrir quem eu sou novamente.

Comentários

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  2. Eu tenho passado por muitos destes questionamentos. Alguns deles consegui solucionar ou encontrar uma pista. Porém, para muitos ando sem sinal. Este ano nos presenteou com tantas mudanças abruptas. Tantos términos, transformações. Alguns traumas... Que me encontrei na postura de recomeçar. Acho que no meu caso não é encontrar a minha identidade, mas sim fazer nascer uma nova. Ou, quem sabe, resgatar a identidade original, anterior a qualquer uma que eu tenha expressado nesta vida.
    Também comecei terapia e tem me ajudado tanto...
    Sairemos desta melhores. Mais experientes. Mais conhecedores de nós mesmos.
    Espero que esteja melhor e com bastantes respostas.

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