Relatos de uma quarentena em Niterói

16.05.20

Oi, gente. Eu estou aqui hoje para desejar que estejam todos bem de saúde mental. Eu mesma não estou muito. Quero ver quando vão começar a vender cursinhos de readaptação à vida em sociedade, porque eu vou precisar muito.

Noite passada eu dormi muito mal, foi um martírio levantar da cama hoje de manhã, cheguei a perder as minhas poucas horas de sol. Eventualmente juntei forças e fui encarar o dia.

Faz duas semanas que eu não treino praticamente e eu vejo toda a carga da quarentena afetando a minha forma física e isso me incomoda. Tem a questão estética, eu não gosto do caminho que as coisas estão tomando em relação à minha aparência, a minha auto estima cai. Tem também questões outras, de resistência cardiorrespiratória, força, até o dormir mal também pode ter a ver com a falta de movimento. Ontem de noite eu peguei uma cadeira para me olhar no espelho, porque aqui em casa não tem um que pegue o corpo inteiro desde o chão, e vendo o que vi decidi que precisava tomar uma atitude. Hoje acordei determinada a voltar a treinar e a comer melhor. Foi muito difícil, acho que principalmente porque eu estava tão cansada e desmotivada. Comecei o dia com uma hora de yoga e quase morri.

Eu ainda tinha falado para mim mesma que faria faxina hoje, semana passada eu pulei o dia da faxina e não tinha como escapar dessa vez. Depois da yoga eu estava me sentindo tão perdida e para baixo, não conseguia começar a fazer as coisas que eu queria fazer. No meio de todo aquele desespero eu resolvi sentar e escrever para ver se colocava umas coisas para fora e organizava umas ideias dentro de mim.

A verdade, eu vou confessar, é que a minha mente cansada e fraca estava se inundando de pensamentos obsessivos sobre o fim do meu relacionamento. Eu me convenci de que preciso admitir para mim mesma que não superei tudo o que aconteceu e que as coisas ainda me machucam. Eu já não tinha muito sucesso em me fazer parar de pensar nas coisas que passaram, mas achei que talvez o melhor a fazer seja parar de brigar com a minha mente e deixar vir o que tiver que vir. Talvez em algum momento eu descubra a melhor maneira de lidar com isso tudo. O coping mechanism que eu usei hoje foi o de escrever uma carta para o ex. A ideia não é enviar a carta, é só uma medida terapêutica para que eu consiga dizer umas coisas que eu preciso dizer até mais para mim mesma do que para outra pessoa. Então eu fiz isso e chorei muito durante o processo, quando eu digo que as coisas ainda me machucam eu não estou de brincadeira. Depois que eu contei para o papel algumas verdades minhas sobre aquele relacionamento e como ele terminou eu me senti pronta para tentar viver o dia de hoje mais uma vez.

O que eu fiz a seguir foi colocar os fones e encontrar uma playlist de música trance bem psicodélica daquelas que faz o meu cérebro parar um pouquinho. Tem dias em que essa é a melhor maneira para conseguir me concentrar em uma atividade repetitiva e brainless como é a limpeza da casa. Sucesso, está tudo limpo e eu estou com orgulho de mim mesma por ter conseguido lidar com um dia difícil e fazer tudo o que tinha me proposto a fazer. Até porque depois da faxina fiz um treino de jump que faz parte da minha nova atitude em relação às atividades físicas.

Parece que o lockdown aqui em Niterói foi prorrogado até o dia vinte. Eu até liguei a televisão hoje na hora do jornal, mas não consegui assistir por muito tempo. É tudo tão surreal. Eu acho que é a primeira vez na minha vida em que ser brasileira me dá um pouco de vergonha. Eu que no discurso nunca fui uma pessoa nacionalista, mas que carregava a minha nacionalidade com orgulho pelos países lá fora. Não que eu tivesse muito orgulho da situação política por aqui, mas atingimos um patamar deplorável que me deixa verdadeiramente sem palavras.

Eu realmente quero ser capaz de escrever coisas mais positivas durante esses relatos, mas não vai ser hoje. Um outro dia, um outro dia.

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