Relatos de uma quarentena em Niterói

08.05.20

Amanheceu um dia de muito sol. Acordei naturalmente às oito da manhã como de costume. Agi de acordo com o meu ritual matinal: levantei, abri um pouco a janela, abri o outro quarto onde coloco os gatos para passar a noite, abri as janelas da casa, alimentei os gatos, fui ao banheiro lavar o rosto e me deprimir subindo em cima da balança. Depois estendi o meu tapete de yoga no chão do outro quarto para pegar sol e escrever as minhas páginas matinais. Um dia normal. Pelas nove e meia fui tomar café da manhã, hoje quebrei o veganismo porque tive vontade de comer ovos mexidos. Comi enquanto respondia mensagens no WhatsApp e no Instagram.

Por volta das dez e meia fui fazer yoga. Tenho usado o aplicativo no nível iniciante 2 com uma duração de 45 minutos e 10 minutos de Shavasana. Eu tenho me sentido bem fraca e com pouco resistência nesses últimos dias, imagino que por vários motivos. Faz um tempo já que toda vez em que estou lá estirada no chão em Shavasana, parada com meus olhos fechados, a Bianca resolve subir na minha barriga. Ela chega perto, esfrega a cabeça na minha mão, sobe na parte inferior do meu abdomen e começa a fazer massagem. Depois de um tempo ela deita e fica lá até que eu me levante. Tenho estado com muita coisa na cabeça nesses dias também e meus momentos de meditação depois da yoga não tem sido muito meditativos.

Um desses dias foi anunciado que Niterói vai adotar o lockdown por alguns dias, começando nessa segunda feira. Hoje passou uma das vizinhas aqui no apartamento me pedindo para participar de um abaixo assinado que ela vai levar para o síndico para que abram o campo de futebol que fica em cima da florestinha que tem aqui no prédio para que os moradores possam levar seus bichos de estimação. A minha esperança era que fosse um abaixo assinado para parar de vez com a tal da obra que me atormenta, mas tive minhas expectativas frustradas.

Aí eu resolvi dar uma passada rápida no mercado antes das aulas de inglês para comprar umas coisinhas e depois ficar muitos dias sem sair de casa. Somente itens de primeira necessidade, como chocolate. Foi muito cansativo, tem sido sempre muito cansativo ir a rua por qualquer motivo hoje em dia. Tudo muito estranho, ou sou eu a estranha. Mas o pior foi que quando eu estava voltando para a casa fui descer um degrauzinho da calçada, virei o pé e me estatelei no chão. Caiu eu para um lado e as sacolas vieram logo atrás caindo do outro. Me ralei toda. O legal só foi notar como todo mundo que estava por perto veio ver se estava tudo bem e me oferecer ajuda. Um moço até pegou minhas sacolas e me ajudou a colocar elas de volta nos braços. Ele teve receio que eu não fosse capaz de carregar elas assustado com meus dedos ensanguentados. Em um dia de forte TPM só o que me faltava era um motivo para fazer um drama e me lamentar que não tem ninguém aqui para cuidar me mim. Cheguei em casa, larguei as compras e os sapatos na porta, tirei as roupas e fui para o banheiro lavar as mãos e entrar no banho para esfregar os joelhos ralados. Depois tive que voltar para a cozinha para limpar as compras com álcool e guardar tudo. Em tempos de pandemia fazer compras se torna algo muito trabalhoso.

Mas uma coisa que sempre me dá prazer é olhar para a combinação de cores das coisas que eu comprei. Sempre fico feliz quando olho para a pia e vejo os vegetais acumulados ali esperando para serem higienizados. O brócolis verde escuro, os tomates vermelho vivo, as batatas amarelas, a melancia um vermelho meio cor de rosa, as bananas com pedaços ainda um pouco esverdeados, o outro tom de verde da rúcula. Sem contar que eu tenho me permitido uns mimos, então estou com quatro tipos de cogumelos na minha geladeira. Olho para eles com orgulho e salto uma pirueta imaginária. Eu adoro comida, me dá um prazer tão grande.

Agora de noite percebi que as cenouras que comprei no início da semana já estavam começando a amolecerem e acabei fazendo um suco de cenoura, maça e gengibre que ficou uma delícia. Comer também me dá prazer né. Sempre pensei que tenho muita sorte porque gosto tanto da comida que eu preparo. Além do mais, amo cozinhar. Só a maldita louça que me incomoda, pior ainda agora com as mãos raladas, sofrimento amplificado.

Eu ainda vou engatilhar com esse diário. E esses dias volto um pouco no tempo para contar episódios interessantes passados.

Só para terminar, um desabafo: gente, esse povo que usa máscara cobrindo só a boca e deixando o nariz de fora, dá pra entender?!

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