Relatos de uma quarentena em Niterói

Subam na máquina do tempo e apertem os cintos!

Segunda feira, 04 de maio de 2020.

Passei uma duas semanas na missão de usar tudo que eu tinha em casa até não ter outra opção que não, ir até o supermercado. A verdade é que eu sou meio doida e adoro esse desafio de esvaziar a casa de comida. Eu faço isso de vez em quando em condições normais, não é só uma coisa de quarentena. Fazer isso me obriga a ser criativa e inventar coisas gostosas com os ingredientes que me restam. Além disso, eu tenho um pouco de um TOC minimalista e adoro terminar com as coisas e ter uma geladeira vazia e limpa para recomeçar.

Perto do fim a minha geladeira estava assim

Segunda feira foi o dia em que decidi ir às compras. Ia sair de casa pela primeira vez em pelo menos duas semanas. Eu não tenho me sentido bem na rua nessa época. Sinto uma energia ruim (que pode estar sendo produzida por mim mesma quando percebo quanta gente não está nem aí para a importância do isolamento). Me preparei psicologicamente, coloquei a máscara, peguei a sacola e a garrafinha de álcool em gel e fui.

Eu resolvi cruzar Icaraí para fazer compras no Hortifruti porque sabia que lá encontraria tudo que eu tinha na minha lista; muitos legumes e verduras para uma semana massivamente vegana. O caminho até lá foi um show de horrores para os meus olhos. Começado já na portaria aqui do prédio, já que o porteiro do dia é uma dessas pessoas que usa a máscara com o nariz de fora. E, cara, eu entendo que usar a máscara é desconfortável, muito mais para alguém que tem que passar quase o dia inteiro com ela na cara. Só que quando você abaixa a máscara e deixa o nariz de fora você está automaticamente respirando qualquer coisa que estiver ali contaminando a parte da proteção que fica em contato com o ambiente. Não sou nenhuma expert no assunto, mas meus instintos me dizem quem talvez fizesse mais sentido ter mais de uma máscara, trocar ela de vez em quando e ter umas pausas entre as trocas para descansar de usar aquilo na cara. Enfim, não sei, tô só ruminando aqui. 

Já tinha sido anunciado que agora é obrigatório o uso de máscaras em Niterói, e eu fiquei um pouco chocada com a quantidade de gente na rua sem usar. A verdade é que eu fiquei chocada mesmo com a quantidade de gente na rua. O calçadão da praia de Icaraí mesmo, ainda tem um sinal de interditado a cada cinquenta metros, e ainda assim estava cheio de gente se exercitando. E os guardas municipais, que imagino serem os responsáveis pela fiscalização, são o mesmo que nada. E falando nos guardas... quase todos eles estavam trabalhando de máscara, o que é uma coisa boa de certo modo. Por outro lado eu acho um absurdo que ainda existisse algum deles trabalhando sem a proteção, na minha opinião eles deveriam dar o exemplo. Mas o pior de tudo foi a cena que eu vi ainda aqui na esquina da Ari Parreiras. Tinha um grupo de guardas parados em pé junto a um veículo, todos de máscara. Um deles se virou para longe do grupo para tossir e tirou a máscara. O homem TIROU A MÁSCARA PARA TOSSIR. Eu desisto de entender. 

Eu não posso deixar de falar também da senhora que eu vi dando uma caminhada. Aparentava ter os seus sessenta anos, por aí. Vestida com roupas esportivas, parecia mesmo que tinha saído para caminhar ou dar uma corridinha - como a maioria das pessoas que vi na rua naquele momento. A criatura tinha uma dessas máscaras descartáveis, daquelas que amarra atrás da cabeça, pendurada no pescoço. Quando ela passava por perto de alguém ela levantava a máscara e colocava na frente da cara. Eu realmente acho que para algumas pessoas essa máscara pode ser pior do que não usar coisa nenhuma. 

Pelo menos eles não tem deixado as pessoas entrarem sem máscara dentro dos estabelecimentos, limpam sempre as mãos de quem chega com álcool e limitam o número de pessoas dentro da loja ao mesmo tempo. 

Agora voltando ao presente...

Sábado, 09 de maio de 2020.

Hoje finalmente tirei o dia para cuidar um pouco de mim. Achei que ia me ajudar com meu estado de espírito e com a minha auto estima. Eu não sei se vocês sabem, mas eu estava prestes a fugir do meu passado e de coisas da vida quando tudo isso começou, me obrigando a ficar e encarar tudo. Mas isso é uma história para outro momento. O que quero dizer é que essa quarentena tem sido uma montanha russa de estados emocionais e mentais. 

Eu tenho aproveitado esse tempo sem contato com nenhum outro ser humano para fazer algumas experiências. Coisas bobas, como por exemplo: já deve fazer três meses que eu não uso desodorante. Pra que que eu vou gastar produto, colocar mais coisas químicas na minha pele se só quem pode se incomodar com o cheiro sou eu? Devo dizer que a parte mais difícil para me acostumar foi com o suor. Muito tempo usando desodorante antitranspirante e eu esqueci que suava no sovaco. Foi muito estranho nos primeiros dias ficar molhada ali quando fazia exercício fisico. Agora eu devo dizer que em 87% do tempo eu não tenho nenhum cheiro ruim sem o desodorante. Afinal de contas, não deixei de tomar banho todos os dias já que isso sim eu considero necessário por mim, e não pelos outros. Eu sou até que bem cheirosinha, o desodorante é mesmo só para garantir na convivência com outros seres humanos. 

O outro experimento que fiz foi de deixar o meu bigode crescer para descobrir o seu verdadeiro potencial. Como talvez nem todos saibam, eu sou menina e meninas não podem ter bigode então eu nunca dei tempo suficiente para os pelos do meu rosto realmente se mostrarem. Fiquei um bom tempo com os pelos crescendo e me incomodando até que tirei tudo hoje no meu dia de princesa. Fiz as unhas, as sobrancelhas, lavei e hidratei o cabelo, me depilei, fiz skin care... tudo só para mim. Outra hora eu falo mais sobre a minha relação não tão saudável com os pelos do meu corpo. Hoje vou parando por aqui porque não quero deixar o post muito longo. 

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