Atenção aos detalhes

Eu sou uma pessoa privilegiada porque eu posso sentar na rede da varanda de manhã para meditar.

Hoje eu estava ali, sentada de frente para a florestinha que fica em frente a varanda, com a gata no meu colo, de olhos fechados, quando pensei ter escutado alguém falando espanhol. Achei estranho. 

Eu moro em um prédio que contrata uma empresa de manutenção predial que envia pessoas para manter as áreas do condomínio limpas. Normalmente são as mesmas pessoas que trabalham aqui todos os dias e eu conheço todas, nenhuma é hablante de Español. 

Eu tinha escutado pessoas chegarem na área externa perto da piscina e começado a varrer e então tive a impressão de ouvir a voz de uma mulher falando em espanhol. Depois de um tempo eu finalmente me convenci de que, sim, havia alguém falando espanhol ali em baixo. Larguei a meditação, abri os olhos e fui ver quem era. Vi duas mulheres varrendo, uma de pele negra, cabelos cacheados presos em um coque acima da cabeça e rosto com uma expressão sempre simpática. Ela eu já conhecia. 

Assim, eu conheço todo mundo que trabalha aqui de fisionomia e de bom dia, mas eu não sei o nome de todos. Eu sou péssima com nomes. Eu sei os nomes só das pessoas com quem eu tenho um contato maior do que as trocas de gentileza diárias. Eu sei o nome do Lucas porque ele é o porteiro mais legal e sempre trocamos umas piadinhas. Sei o nome do Paulo porque ele é o porteiro menos legal e parece ser o que trabalha mais. Sei o nome do Henrique porque parece que ele é o cara que resolve um pouco um tudo por aqui. E sei o nome da Denise porque ela conheceu os meus gatos um dia em que estava limpando o corredor aqui no meu andar e quase sempre quando a gente se encontra a gente fala sobre gatinhos. Tem o Carlos também que eu nunca mais vi, ele costumava ser o porteiro da noite então ele sabia de todas as noites que eu voltava tarde para casa acompanhada ou não, além de ter me salvado quando fiquei presa no elevador. Acho que das outras pessoas eu conheço a fisionomia, a voz e o sorriso.

A outra mulher tinha a pele avermelhada, cabelos lisos muito pretos e muito longos presos em um rabo de cavalo baixo e falava um espanhol um pouco irritado. Ela estava reclamando sobre alguma coisa, ou algumas muitas coisas, com a outra moça que respondia com poucas palavras e sem falar muito alto. Não consegui definir que idioma ela estava usando, mas em um determinado momento tive a impressão de que respondia em espanhol. Foi um momento um pouco surreal da minha vida. Acho que o meu cérebro sempre relaciona pessoas ao meu redor falando outros idiomas com as minhas experiências fora do Brasil e não no meu dia a dia de sentar na rede para meditar em Niterói. Isso tudo me fez me sentir um pouco longe daqui por um segundo e acho que me fez enxergar o meu cotidiano atual de uma nova perspectiva. 

De vez em quando prestar atenção nos detalhes nos abrem novas janelas por onde podemos ver o mesmo mundo com uma nova luz. 

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