Carro de som

Está um dia de muito sol, talvez seja uma boa dar uma descida na praia. Eu queria mesmo era ir na praia de verdade, uma praia com uma água mais limpinha, mais afastada da cidade, ir sem máscara, poder deitar na areia e tomar banho de sol.

Acho que eu queria um dia sem pensar um pouco. Passar um dia sem pensar nas coisas, sem pensar em passado, sem pensar em quem eu fui, quem eu sou e quem eu quero ser. Queria um dia para relaxar. Seria perfeito fazer isso na praia, deitada debaixo do sol, tomando água de coco. Estou sentada no chão debaixo do sol enquanto escrevo isso e aqui em casa tem água de coco, peraí que eu vou buscar. Não é a mesma coisa, mas já é alguma coisa.

Fecho os olhos e sinto o sol esquentando o meu rosto. Escuto os passarinhos cantando animadamente, ouço o desentendimento entre dois gatos, um cachorro late, passa uma moto. O dia está vivo. Passa o momento. Agora restam os passarinhos, já não tão animados, escuto ao longe um carro de som anunciando alguma coisa. Poderia ser o carro do ovo, "trinta ovos dez reais!". Ontem eu vi o carro do peixe, "camarão trinta reais o quilo!", até que é um preço bom. Poderia ser o carro da lata velha, "refrigerador velho, panela velha, ar condicionado velho...". Ou, nesses tempos, poderia ser o carro da luta contra a pandemia, "Atenção, Niterói! Estamos na luta contra o corona virus...". Acho que nunca tinha parado para pensar em quanto as pessoas daqui gostam de um carro com alto-falante para anunciar as coisas. 

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