Um instante de existência

Hoje eu consegui tirar um tempo para dar uma limpada na casa. Quando estava esfregando o box do chuveiro percebi que a água estava descendo pelo ralo demoradamente. Decidi que era melhor usar um pouco de Diabo Verde para dar uma desentupida. Não pude fazer isso imediatamente porque precisei acabar a faxina rapidinho para dar aula. Acabei esquecendo. Entre uma aula e outra eu achei que daria tempo de tomar um banho. Fui para o banheiro, tirei a roupa, pensei que queria lavar o cabelo e colocar uma máscara facial, abri a porta do box e me lembrei da questão do ralo. Resolvi que era melhor resolver a vazão de água antes de tomar uma ducha. Enrolei, então, a toalha ao redor do corpo e fui colocar água para esquentar. Quando eu estava caminhando pela casa em que vivo só, apenas com a toalha enrolada no corpo, meus pés descalços tocando o chão recém limpo, com os gatos andando em direção à vasilha de ração, eu experimentei um fenômeno interessante. Tive um instante, um brevíssimo instante, em que pude realmente sentir o enorme prazer de ser eu. Acho que essa é a melhor explicação que eu posso dar. Como se por aquele instante fugaz eu tivesse sido capaz de realmente ser eu, estar presente por completo e existir como eu; no meu corpo, na minha casa, com os meus gatos, com o meu chão limpo, com a liberdade de caminhar pelada e descalça sem me preocupar, nesse país, nessa cidade, nesse planeta. Eu me senti na minha pele, eu realmente vi o chão da sala, eu senti ele com a planta dos pés, senti a temperatura agradável do dia, percebi a presença dos gatos ali. De maneira não proposital, assim, como que por acidente, eu estive completamente presente. Por um pequeníssimo instante. E talvez o mais impressionante para mim foi o prazer profundo que eu pude sentir com uma gota tão pequena de existência. 

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