O pica-pau da cabeça amarela

No outro dia, na verdade foi ontem mesmo, aconteceu dessas coisas que são um presente do universo, ou da natureza. 

Estava eu sentada na varanda comendo um bolinho de laranja, daqueles com glacê e laranjinhas cristalizadas por cima, feitos dentro de uma forminha de papel kraft, tomando uma caneca de café - caneca mesmo porque aqui em casa não tem xícara, e descafeinado porque eram umas três da tarde e cafeína não me deixa dormir. Eu e a Karina, ou a Karina e eu, sendo que ela opta pelo cafeinado mesmo pois cafeína nenhuma abala a tranquilidade daquele ser. 

Estavamos comendo devagar, bebericando, papeando, até a conversa ser interrompida pelo comportamento anormal dos gatos. Os dois estavam parados na ponta da varanda, em posição de ataque olhando para algo na direção do apartamento de cima. Parei o que estava fazendo, finquei o garfinho firme no bolo, e fui conferir o que era. 

Esperando um inseto grande, que é algo muito do habitual, me surpreendi muito ao ver um pica-pau enorme. Eu nunca tinha visto um pica-pau por aqui. Diferente do tão bem conhecido pica-pau do corpo azul com a cabeça vermelha, esse tinha o corpo preto com umas pintinhas brancas, no estilo galinha de angola, e uma cabeça amarela com um moicano bem no estilo punk anos 70. 

Karina e eu nos levantamos e fomos até a beirada da varanda acompanhar o vôo daquele pássaro lindo, daquele presente da natureza, enquanto ele saía do ar-condicionado da vizinha para pousar em uma das árvores na florestinha que tem aqui atrás do prédio. Lemos que esse tipo de pássaro normalmente anda em bando ou pelo menos como casal, mas procuramos, procuramos e só vimos um mesmo. Era um lobo solitário, ou um pica-pau solitário. Cansado daquela mesmice daquela vida em bando resolveu se arriscar sozinho e buscar novos horizontes, novas experiências e, quem sabe, se conhecer melhor no processo. 

Tudo que eu sei é que a simples visão daquele pica-pau mudou completamente o clima do meu fim de semana. Me senti tão sortuda com aquela aparição, e tão feliz. Sei lá, é que essas coisas tão simples assim que parecem que dão sentido à vida, ou me fazem acreditar um pouco mais em todas as coisas boas. 

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