TPM

Teve uma época em que eu colocava uma face para a minha dor. Na verdade eu colocava um responsável pela minha dor, um culpado. A dor vinha e logo pensamentos sobre aquele homem menino enchiam a minha mente e, pasmem, a dor alimentava os pensamentos e os pensamentos alimentavam a dor. E com a dor se misturava a raiva, porque ERA TUDO CULPA DELE! DAQUELE #$*@%! E eu acho que eu não conseguia entender, não estava pronta para aceitar, que a dor é só a dor, o resto é a gente que inventa e coloca por trás. Um plano de fundo que a gente pinta, uma história que a gente conta. Esses apetrechos que adicionamos à dor fazem com que ela pareça mais forte ou mais fraca, pior ou menos importante. É, a gente tem esse poder. 

É melhor uma dor sem rosto, uma dor sem porquê. Melhor tristeza sem razão. Só o sofrer só não é sofrer em vão. Melhor o puro sentir, sem a história que a gente traz. Sem ter que admitir a nossa parte no que ficou para trás. Uma dor sem culpado é uma dor sem culpa. Não há o que fazer, é esperar passar. Aquece a água para o chá, se aconchega no sofá. A tarde toda na rede sem se preocupar. Nada a fazer além do fazer nada e esperar que esse sangue todo desça como água. 

A TPM vem, a dor vem, a tristeza vem. É tudo parte de estar vivo. E depois tudo passa e você percebe que tudo aquilo não significava nada. 


 

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