Só mais um coração partido

Estou assustada. Não consigo escrever. Ao menos não consigo escrever coisas que eu goste. Nada de bom. Não sinto aquela inspiração eufórica que me dá tanto prazer e me faz acreditar que eu posso fazer isso para o resto da minha vida. Muitas das coisas que tenho escrito ultimamente são negativas, superficiais, chatas. Um reflexo mesmo de quem eu sou ultimamente. Ou pelo menos um reflexo de como estou na minha interação com os outros e com o mundo. Andei aprendendo o quão importante é não usar máscaras quando escrevemos, assim como quando nos relacionamos. O quanto não devemos nos esconder atrás de máscaras. E talvez nesses tempos falte de mim às coisas que escrevo, tenho tido medo de me colocar ali, de me expor. Fico insegura para mostrar meus sentimentos, talvez tenha medo dos julgamentos. Eu tenho me escondido. Tem motivo? Tem motivo. O meu coração partido.

Acredito que a exposição das nossas vulnerabilidades cria a possibilidade de conexão. Somos todos vulneráveis e se pudermos nos identificar com o outro nesse ponto tão sensível baixamos a guarda. Daí pode surgir o conforto e a segurança que necessitamos para sermos honestos e abertos e criar conexões significativas. Isso serve para as interações entre os homens como serve para a escrita. Gostamos de ler algo com o qual nos identificamos, assim podemos construir uma relação com aquela literatura e, em certa medida, também com o autor do trabalho. Só valem a pena os relacionamentos onde há entrega, assim como com os livros que valem a pena ser lidos.

Eu não cheguei a dar detalhes, na verdade acho que nem cheguei a contar nada mesmo, do que aconteceu após aquela despedida cinematográfica no aeroporto. Não expus qual foi o futuro daquele relacionamento interrompido bruscamente no dia em que deixei a Nova Zelândia. Talvez não o tenha feito porque não teve, não tem e muito provavelmente não terá um futuro. Não sei se algo do gênero não ficou implícito, na realidade, com a minha omissão sobre o assunto. Afinal de contas, porque eu esconderia do mundo um belo final feliz? Nada do que aconteceu foi muito diferente do que acontece normalmente com os finais dos meus relacionamentos. Com os quais eu aparentemente não consegui ainda aprender muita coisa. O resumo é que o outro desiste e eu insisto. Eu sempre insisto, sou muito insistente. Cabeça dura? Sou muito orgulhosa para me declarar cabeça dura. No fim, em vez de me machucar uma vez só e partir para outra eu insisto e me machuco múltiplas vezes. Crio esperanças só para serem frustradas e alimento as rachaduras do meu coração. Pareço uma pessoa muito desapegada, eu jogo tudo fora facilmente, não acumulo muitas coisas, estou sempre me mudando e morando em lugares diferentes. Contraditoriamente, não sei dizer adeus a um relacionamento. Me dói acreditar que acabou, tem sempre uma das minhas múltiplas personalidades que duvida e acha que amanhã de manhã vou acordar para uma mensagem linda da pessoa que apague tudo de ruim que aconteceu e traga de volta apenas o que foi bom. Não consigo colocar os verbos no passado, como a falar de uma coisa morta. Me dói.

Tenho então, como companhia leal, um coração partido. Já teve o seu coração partido? Não acredito que seja algo metafórico, porque efetivamente dói. Acho também que as lágrimas não são produzidas nos olhos, elas vem do fundo do peito. Digo isso porque em alguns momentos sinto essa força invisível que aperta o meu peito e faz as tais aparecerem molhando meus olhos. Cada um lida do seu jeito com um mal de amor, não é mesmo? Eu me encontro em um estado bipolar no momento, ou tripolar, tem vezes em que estou bem e contente, outras vezes fico muito triste e ainda em outros momentos eu estou tranquila e serena. Assim, eu sei que vai passar. O coração tem a capacidade de se remendar, não é a primeira vez que machuco em uma aventura romântica. Amar é um esporte de alto risco. Mas sei também que leva tempo. Uma ferida não cicatriza assim de uma hora para a outra. Preciso ter paciência e, provavelmente, aceitar que vou escrever mal.

Voltando à ligação do coração partido com a escrita. O que acontece é que um animal machucado se esconde. Ele sente que está mais vulnerável, que está fragilizado e sair por aí nesse estado é muito perigoso. Um coração partido não quer dar as caras, ele quer se esconder bem dentro do peito com medo. Tempo é necessário para que sejam curadas as feridas e recobrada a coragem de pôr a cara no sol mais uma vez. Como se entregar sem o coração? Como se mostrar sem se entregar? Como escrever algo que presta sem se mostrar?

Comentários

  1. Vc continua escrevendo lindamente, ❤️

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  2. Amo seus textos, sao escritas que nos fazem sentir um pouco do que vc sente. Que talento !
    Coracao partido é algo que dói muito sim, mas que vale apena ser remendado novamente. Te amo mari !

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  3. Adoro teus textos! ❤️❤️❤️

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